quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

A pedidos.

Traguei o cheiro do postal, para que - em uma tentativa um tanto inútil - pudesse me lembrar desse cheiro quando encontrasse a linda mulher loira que um dia roubou o meu sétimo amor platônico.
Saberei reconhece-la, George não tem mal gosto, podemos dizer assim... Sei que seu corpo irá ter curvas. Sei que vai ter longas, finas e pálidas pernas, apenas esperando para serem usadas.
Sei que o gênio vai ser forte, que vai ser inteligente, vai ouvir Tchaikovsky, gostar de uísque e de cigarros. Vai parecer alemã, jornalista, artista plástica, talvez. Vai ter um largo e límpido sorriso branco.
Os lábios serão pequenos, e finos, usarão o vermelho, que vai com certeza, combinar com a saia azul-petróleo e a blusa branca, propositalmente aberta três botões abaixo do queixo. Sei que a voz será suave, e os olhos penetrantes. Será simpática, extremamente, aliás; extremamente simpática. Vai usar saltos, mas eles nunca à deixarão maior que o próprio marido, ela com certeza, achará falta de respeito, afinal ele é supremacia. Sentará com os joelhos juntos, e pés separados, curvados para dentro, revelando, acidentalmente - porque, afinal, isso ficaria para mais tarde - as rendas da meia-calça bege. Ela não irá fumar perto de suas crianças, mas vai pedir para que o mais velho delas acenda seu cigarro, porque suas mãos estão ocupadas demais com qualquer coisa fútil. Pintar as unhas, talvez. Da mesma cor do vermelho desconcertante dos lábios. Sei que ela irá mandar o marido usar apenas camisas de cor escura, porque sabe, que quando for lavá-las, não perceberá as inúmeras marcas de batom no colarinho, e assim, quando for para o quarto afogar as mágoas de um marido roubado por outra - passado de mão em mão (ou perna em perna) - vai se lembrar que é fraca. Que não passa de uma fraca.


Uma das minhas últimas (e quase inúteis) tentativas de escrever um bom livro.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

O amor...

... Estava na minha gaveta de meias.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Palavras.

Ecoam na minha cabeça, pulam lábios à fora, e fogem. Correm mais rápido que eu. Tem mais pernas que eu.
Como eu não percebi que era errado? Que era estúpido? Que estava na hora errada? Que não eram verdades?

Eram ilusões. Daquelas que te puxam pro buraco mais fundo e escuro do céu.

Felizmente, estou vendo a luz.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Uma vez,

...me rendi. E escrevi trechos:

"O modo como pensa, me irrita, e deixa atordoada. Complicado, ajeitado.
Nunca pensei no que você estaria pensando, porque não posso. Não quero.
O modo como observa, que sorri de conjunto enquanto pronuncia palavras suaves, e tocantes. O pouco esforço para tornar frases simples, em poemas."


[Terceiro parágrafo.]

"...nenhuma das duas afetaria sua pose, sua indiferença diante o problema. Seus olhos talvez nem o escalem como um problema. Talvez um obstáculo, que pra ele, apenas palavras derrubariam.
E ele sabe usá-las como canhões, e como alegorias. Engraçando o sete, e definhando o oito."


[Quinto parágrafo, segunda linha.]

"Seu sorriso, sempre escorregando para o canto dos lábios, era engraçado. Fazia minha tentativa parecer falsa, ridícula, uma mera... Tentativa."

[Sétimo parágrafo.]

"Era o "sorrir na hora errada", "sentir na hora errada" e "ser na hora errada". Mas, não pode evitar. Suas feições não escondem."

[Oitavo parágrafo.]

"O sufoco, e a felicidade. Saltitando entre céu e inferno."

[Nono parágrafo.]

"Segredos secretos. Nunca desvendados."

[Nono parágrafo, segunda linha]

"Desvendá-lo seria épico."

[Nono parágrafo, terceira e última linha.]

domingo, 20 de dezembro de 2009

As piores escolhas...



Possível conversa entre um pequeno garoto, e a inspiração:

- Você veio?
- Estou aqui, certo?
- Sim. Não podia ter chegado antes?
- Chego nas piores horas.
- Pensei que fosse nas melhores.
- Pra você, nas piores.
- Por que?
- Você é diferente, especial, se assim posso dizer.
- Diferente? Especial?

Breve silêncio.

- Trouxe duas coisas pra você, garoto.
- O que?
- Precisa escolher.
- Sou bom em escolhas.
- Eu não diria isso.
- Vamos! O que tem aí?
- Eu tenho a luz. E a escuridão. A escolha é sua.

O garoto pensa.

- Dê-me a escuridão.
- Tem certeza?
- Absoluta.

E o garoto voltou pra casa, sentindo-se pesado.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Aquela sensação...

de entusiasmo. Tempos e tempos que não me deparo com ela à minha frente. Ando esquecendo das emoções, das reações, das sensações. É, lembra da surpresa? Da alegria? Da felicidade?

Não.

Ando sentindo a ansiedade pular e se arrastar pela minha garganta. Sinto doses disso por dia.

Bem estranho.

À tempos não pego o microfone, danço sozinha no quarto com o corpo na frente do espelho e sinto o fone escorregar por orelha à baixo, espatifando-se no chão, enquanto canto o refrão já decorado. O que dá vontade de pular.
É a vergonha. De mim mesma, talvez.
A vergonha, que me bate na cara, e me manda parar. E eu paro.

Uma vez, senti-me tão confortável, e tão animada por uma pequena coisa. Tão pequena, que me perguntei por que me sentia daquele jeito.
Era a alegria. Ataques dela.
Não tenho, não sinto, não sei mais como é.

A ansiedade me pega de surpresa, com mais frequência que o resto das emoções, que eu enfiei numa caixa, e joguei em baixo do travesseiro.
Não sei qual é o meu problema. Não sei qual é o problema dos outros.

Ajuda? S.O.S?

Posso aparentar, posso dizer, mas tudo isso é diferente de sentir.

e que fique claro: nunca vi alguém verdadeiramente feliz.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

E isso

é bom?
Essa sensação de que tudo pode dar certo quando está exageradamente errado?